
Certa vez um dos pais da igreja chamado Tertuliano afirmou que “o sangue dos mártires é a sementeira da igreja”. Quanto mais os cristãos sofriam e morriam por Jesus, mais gente se convertia impressionada com a fé, a coragem, o compromisso e o amor daquele povo por Jesus e sua igreja. O testemunho daqueles homens e mulheres era tão intenso que até as suas mortes geravam vida para outras pessoas.
Normalmente olhamos para a morte como uma situação irremediável. Há um senso comum de que a morte é um ponto final, é um estado de aridez, uma situação estéril. No entanto, na perspectiva cristã a coisa se inverte. Tudo começou com uma morte, a morte de Jesus Cristo na cruz do calvário. O seu sangue derramado foi a condição que nos trouxe a vida. A maldição que caiu sobre ele transformou-se em bênção para nós. Seguindo este princípio aqueles cristãos continuaram semeando o caminho da igreja com sangue.
Para os nossos irmãos da igreja primitiva não havia situação que o Senhor não pudesse transformar em bênção para o seu povo, não havia luta que Jesus não usasse como pretexto para o crescimento do evangelho e a salvação dos perdidos. Uma ordem havia sido dada por Jesus aos seus discípulos: “Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15), e eles entenderam que nada nas suas vidas os impediria de cumprir esta ordem. Eles compreendiam esta ordem como um privilégio, não como um peso.
Eles se viam como legítimos representantes de Jesus Cristo. A salvação era algo tão precioso e tão incomparável, que outras pessoas precisavam também conhecê-la. Assim, nem as perseguições, nem a própria morte atrapalharia aqueles discípulos de obedecerem a Jesus. Seguindo esta linha, Pedro e João anunciaram Jesus e por conta disso foram levados ao Sinédrio e proibidos de falar e ensinar sobre Jesus (Atos 4.23-31)
Quando foram soltos, os dois procuraram os irmãos e relataram tudo que havia acontecido. Então, a igreja orou unanimemente e a resposta de Deus veio: “Tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a Palavra de Deus”.
Diante da ousadia de Pedro e João nós temos a tendência de pensar que eles eram super-homens, mas não eram. Eles eram homens de carne e osso como nós, sentiam tudo que nós sentimos. Eles tinham fome, se cansavam e tinham medo. Eles sabiam que se haviam matado Jesus, poderiam fazer o mesmo com eles. Mas, a despeito da perseguição, eles demonstraram o que é ser um devotado seguidor:
1. Alguém que depende da graça de Deus (v. 24, 30).
A ousadia daqueles homens não estava fiada em sua própria coragem, mas na graça de Deus. Eles tinham claro entendimento de que por eles mesmos não sustentariam o compromisso de anunciar Jesus Cristo ao mundo a todo custo. Nós somos herdeiros de grandes homens e mulheres que deram a vida pelo Evangelho. Quem sabe nós não sofremos nem um décimo daquilo que muitos sofreram. Vivemos num país que nos proporciona a liberdade religiosa. Qualquer pessoa pode pegar um auto-falante e ir a uma praça pública pregar o evangelho. Mas se não temos a perseguição que em outros lugares existe, temos uma perseguição espiritual, que é universal. Assim, devemos agir como aqueles discípulos. Precisamos depender da graça de Deus em todo tempo. A obra do Senhor jamais será feita na força do nosso braço. Por mais que criatividade, estratégia e capacidade sejam úteis à obra, o que move a igreja é a graça de Deus.
2. Alguém que apresenta Jesus a todo tempo (v. 19, 20, 29).
Se queremos ver amigos, familiares, colegas e desconhecidos sendo salvos através das nossas vidas, precisamos clamar por intrepidez. A mesma intrepidez que levou aqueles homens a falar de Jesus em toda e qualquer situação. Certa vez o apóstolo Paulo recomendou a Timóteo: “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2Tm 4.2). Eu não tenho dúvida de que precisamos ser coerentes com aquilo que cremos. Precisamos dar bom testemunho, pois o bom testemunho é falar sem usar palavras. No entanto, o que eu sinto é que muitas vezes nos escondemos por trás desta verdade para não falarmos usando palavras. Pensamos que ser bom, ter boa conduta, ter boa moral, ser caridoso é suficiente. No entanto, qualquer pessoa pode ser tudo isso sem conhecer a Cristo. Aliás, todas as religiões pregam estes princípios. Os apóstolos tinham bom testemunho, mas tinham também a intrepidez no falar. As pessoas precisam saber claramente quem é Jesus. Que ele veio ao mundo para pagar o meu e o seu pecado. Que todo homem é pecador, por melhor que seja, e que precisa se arrepender dos seus pecados e aceitar a Cristo como Senhor e Salvador.
3. Alguém que não tem medo da rejeição (v.25-27) .
Aquilo que temos em mãos para anunciarmos é infinitamente maior do que tudo que podemos desejar. Foi o Evangelho da salvação que nos foi entregue. Os discípulos sabiam disso, por isso eles não temiam a rejeição que sofreriam. Eles entendiam que os homens haveriam de se levantar sem motivos contra eles.A verdade é que muitas vezes queremos nos preservar com medo da rejeição. Apesar de ser difícil, não devemos ter medo da rejeição. Quando anunciamos o evangelho, é Jesus que anunciamos. Se há rejeição, não somos nós os rejeitados, mas Cristo.
A nossa oração deve ser para que o Senhor nos dê a mesma intrepidez e unção que foi dada aos discípulos. Para que cumpramos cabalmente a missão que nos foi dada. Só assim o mundo saberá que Jesus Cristo é Senhor e Salvador, e seremos reconhecidos como uma “comunidade absolutamente comprometida em transformar pessoas que não conhecem a Cristo em devotados seguidores”.
Emerson Profirio