terça-feira, 21 de junho de 2011

Devotados Seguidores

Certa vez um dos pais da igreja chamado Tertuliano afirmou que “o sangue dos mártires é a sementeira da igreja”. Quanto mais os cristãos sofriam e morriam por Jesus, mais gente se convertia impressionada com a fé, a coragem, o compromisso e o amor daquele povo por Jesus e sua igreja. O testemunho daqueles homens e mulheres era tão intenso que até as suas mortes geravam vida para outras pessoas.

Normalmente olhamos para a morte como uma situação irremediável. Há um senso comum de que a morte é um ponto final, é um estado de aridez, uma situação estéril. No entanto, na perspectiva cristã a coisa se inverte. Tudo começou com uma morte, a morte de Jesus Cristo na cruz do calvário. O seu sangue derramado foi a condição que nos trouxe a vida. A maldição que caiu sobre ele transformou-se em bênção para nós. Seguindo este princípio aqueles cristãos continuaram semeando o caminho da igreja com sangue.

Para os nossos irmãos da igreja primitiva não havia situação que o Senhor não pudesse transformar em bênção para o seu povo, não havia luta que Jesus não usasse como pretexto para o crescimento do evangelho e a salvação dos perdidos. Uma ordem havia sido dada por Jesus aos seus discípulos: “Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15), e eles entenderam que nada nas suas vidas os impediria de cumprir esta ordem. Eles compreendiam esta ordem como um privilégio, não como um peso.

Eles se viam como legítimos representantes de Jesus Cristo. A salvação era algo tão precioso e tão incomparável, que outras pessoas precisavam também conhecê-la. Assim, nem as perseguições, nem a própria morte atrapalharia aqueles discípulos de obedecerem a Jesus. Seguindo esta linha, Pedro e João anunciaram Jesus e por conta disso foram levados ao Sinédrio e proibidos de falar e ensinar sobre Jesus (Atos 4.23-31)

Quando foram soltos, os dois procuraram os irmãos e relataram tudo que havia acontecido. Então, a igreja orou unanimemente e a resposta de Deus veio: “Tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a Palavra de Deus”.

Diante da ousadia de Pedro e João nós temos a tendência de pensar que eles eram super-homens, mas não eram. Eles eram homens de carne e osso como nós, sentiam tudo que nós sentimos. Eles tinham fome, se cansavam e tinham medo. Eles sabiam que se haviam matado Jesus, poderiam fazer o mesmo com eles. Mas, a despeito da perseguição, eles demonstraram o que é ser um devotado seguidor:

1. Alguém que depende da graça de Deus (v. 24, 30).

A ousadia daqueles homens não estava fiada em sua própria coragem, mas na graça de Deus. Eles tinham claro entendimento de que por eles mesmos não sustentariam o compromisso de anunciar Jesus Cristo ao mundo a todo custo. Nós somos herdeiros de grandes homens e mulheres que deram a vida pelo Evangelho. Quem sabe nós não sofremos nem um décimo daquilo que muitos sofreram. Vivemos num país que nos proporciona a liberdade religiosa. Qualquer pessoa pode pegar um auto-falante e ir a uma praça pública pregar o evangelho. Mas se não temos a perseguição que em outros lugares existe, temos uma perseguição espiritual, que é universal. Assim, devemos agir como aqueles discípulos. Precisamos depender da graça de Deus em todo tempo. A obra do Senhor jamais será feita na força do nosso braço. Por mais que criatividade, estratégia e capacidade sejam úteis à obra, o que move a igreja é a graça de Deus.

2. Alguém que apresenta Jesus a todo tempo (v. 19, 20, 29).

Se queremos ver amigos, familiares, colegas e desconhecidos sendo salvos através das nossas vidas, precisamos clamar por intrepidez. A mesma intrepidez que levou aqueles homens a falar de Jesus em toda e qualquer situação. Certa vez o apóstolo Paulo recomendou a Timóteo: “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2Tm 4.2). Eu não tenho dúvida de que precisamos ser coerentes com aquilo que cremos. Precisamos dar bom testemunho, pois o bom testemunho é falar sem usar palavras. No entanto, o que eu sinto é que muitas vezes nos escondemos por trás desta verdade para não falarmos usando palavras. Pensamos que ser bom, ter boa conduta, ter boa moral, ser caridoso é suficiente. No entanto, qualquer pessoa pode ser tudo isso sem conhecer a Cristo. Aliás, todas as religiões pregam estes princípios. Os apóstolos tinham bom testemunho, mas tinham também a intrepidez no falar. As pessoas precisam saber claramente quem é Jesus. Que ele veio ao mundo para pagar o meu e o seu pecado. Que todo homem é pecador, por melhor que seja, e que precisa se arrepender dos seus pecados e aceitar a Cristo como Senhor e Salvador.

3. Alguém que não tem medo da rejeição (v.25-27) .

Aquilo que temos em mãos para anunciarmos é infinitamente maior do que tudo que podemos desejar. Foi o Evangelho da salvação que nos foi entregue. Os discípulos sabiam disso, por isso eles não temiam a rejeição que sofreriam. Eles entendiam que os homens haveriam de se levantar sem motivos contra eles.A verdade é que muitas vezes queremos nos preservar com medo da rejeição. Apesar de ser difícil, não devemos ter medo da rejeição. Quando anunciamos o evangelho, é Jesus que anunciamos. Se há rejeição, não somos nós os rejeitados, mas Cristo.

A nossa oração deve ser para que o Senhor nos dê a mesma intrepidez e unção que foi dada aos discípulos. Para que cumpramos cabalmente a missão que nos foi dada. Só assim o mundo saberá que Jesus Cristo é Senhor e Salvador, e seremos reconhecidos como uma “comunidade absolutamente comprometida em transformar pessoas que não conhecem a Cristo em devotados seguidores”.

Emerson Profirio

terça-feira, 7 de junho de 2011

Fé e Trabalho, as Duas Faces da Moeda

Você se considera uma pessoa de fé? Geralmente, como descrevemos uma pessoa piedosa? Alguém de fala mansa, olhar terno, rosto tranqüilo. Alguém sempre conformado ao destino e que espera as coisas passivamente. Tem sempre experiências sobrenaturais para contar. Contudo, ainda que estas características sejam verdadeiras, na grande maioria das vezes as nossas expressões de fé e piedade estão relacionadas à intranqüilidade, correria, muito suor, cansaço e lutas. Viver uma vida de fé vai além da simples contemplação, das experiências sobrenaturais e místicas. Uma vida de fé é muito mais humana do que pensamos.

A Bíblia diz que “fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem” (Hb 11.1) e mais adiante o autor da carta aos Hebreus nos mostra a lista dos heróis da fé, homens e mulheres que, pela fé, viram grandes realizações nas suas vidas e deram bom testemunho do SENHOR. Estes heróis da fé não alcançaram os seus objetivos sem esforço, sem trabalho. A verdade é muito clara: “A fé não anula a responsabilidade humana”. Somos salvos pela graça mediante a fé. No entanto, viver por fé implica esforçar-se continuamente. Fé e trabalho não são coisas que se anulam. Quando falamos em salvação, entendemos que ela procede de Deus e não depende das obras humanas, mas a partir do momento que ela se realiza, entra em cena a responsabilidade humana para o exercício da fé.

Se prestarmos atenção, viver é um contínuo ato de fé. Quantas vezes entregamos as nossas vidas aos cuidados de outras pessoas que sequer conhecemos?! Você acorda e estabelece uma agenda para o seu dia acreditando que estará vivo até à noite, mas quem garante que isto acontecerá?! Todos nós acreditamos na providência divina, cremos que Deus nos dará o sustento necessário para a nossa sobrevivência, isto também é uma questão de fé. A fé verdadeira é vivida em meio à nossa humanidade. Eu não acredito numa fé sem lutas, sem suor, sem lágrimas, sem vales, sem trabalho. Este é um tipo de fé sem-vergonha.

Desde o início foi assim: Deus é o criador, mas o homem é seu co-criador. Deus criou os animais, mas deu ao homem a responsabilidade de nomeá-los e governá-los. Deus criou as plantas, mas deu ao homem o trabalho de retirar delas o seu alimento. Deus fez a mulher, mas deu ao homem a responsabilidade de protegê-la. E o mais divino, Deus criou o homem, mas deu a ele o trabalho de continuar criando outros homens. Definitivamente uma vida de fé não combina com braços cruzados. As palavras de Salomão em Eclesiastes 11.1-6 nos ensinam o que é viver uma fé cotidiana:

1. É CONFIAR QUE DEUS FAZ PROSPERAR O ESFORÇO HUMANO (v.1)

Deus promete que nos dará o sustento (Sl 37.27). Contudo, o meio que ele estabeleceu para este fim é o nosso trabalho. A verdade é muito clara, quem planta colhe. Primeiro semeamos e depois colhemos. Ver o resultado do nosso trabalho é a real prosperidade.

2. É FAZER UM INVESTIMENTO TOTAL EM TODAS AS ÁREAS DA VIDA (v.2)

Não é sensato investir tudo que possuímos numa única coisa. Porque se aquilo não der certo nós perdemos tudo. Viver por fé implica numa entrega total daquilo que somos às coisas que acreditamos. Priorizar Deus e a sua obra, não quer dizer que eu preciso abrir mão do trabalho, do estudo, dos relacionamentos, da família. Mas o contrário também é verdadeiro, investir em todas estas coisas não implica em deixar Deus e a sua obra de lado.

3. É NÃO ESPERAR QUE A SITUAÇÃO FIQUE FAVORÁVEL PARA AGIR (v.4)

A colheita nunca virá para o indeciso. Viver por fé é semear mesmo não vendo as nuvens de chuva. É semear mesmo em terreno seco. Não podemos esperar que as coisas fiquem favoráveis a nós para nos entregarmos à vida. A vida nunca deixará de ter suas lutas, mas mesmo em meio a elas vamos semear.

4. É SABER QUE HÁ SITUAÇÕES QUE NÃO ESTÃO SOB O MEU CONTROLE E QUE NÃO TERÃO EXPLICAÇÕES (v. 3,5)

Viver por fé é continuar lutando, trabalhando, produzindo mesmo que eu não entenda o que está acontecendo. Mesmo que sem qualquer explicação aconteça um revés na minha vida. Nós somos humanos e precisamos entender que há situações nas quais não podemos controlar as dificuldades. Na maioria das vezes não sabemos como Deus age, mas basta-nos saber que ele age. Isto é suficiente para cremos e agirmos também.

5. É SONHAR E TRABALHAR POR ESTE SONHO (v. 6)

Bom seria se todas as manhãs um anjo descesse, nos acordasse e passasse as instruções para aquele dia. Bom seria que este anjo nos revelasse cada detalhe das nossas vidas. Eu até acredito que isto pode acontecer, mas o plano geral de Deus é que nós façamos as nossas escolhas. Deus nos deu a capacidade de sonhar e planejar. Isto é uma marca da humanidade, só os homens sonham e planejam. E Deus nos deixou a sua Palavra e o seu Espírito para nos ajudar nesta tarefa.

Fé e trabalho são as duas faces da moeda chamada vida. A vida sem uma coisa ou outra é impossível de ser vivida. Portanto, que vivamos uma fé que toca a realidade pelas mãos do trabalho.


Emerson C. Profírio