Eu estava participando da semana de iniciação científica na faculdade, fazendo um curso de antropologia da religião com o sugestivo título: Protestantismo Histórico e Pentecostalismo, as duas faces da mesma moeda. Após ouvir sobre as origens e características destes dois movimentos e perceber que os seus membros, que se dizem irmãos, ocupam posições diametralmente opostas, uma dúvida veio à minha mente: Por que não há unidade entre os evangélicos? Transformei a minha dúvida em pergunta e o professor, sem pensar duas vezes, respondeu: Porque não temos um Papa!
As palavras do professor só aprofundaram ainda mais a minha dúvida. A partir daquele momento apliquei um olhar mais crítico a esta questão. Observando a Igreja Católica Romana percebi que eles também possuem vários ramos dentro do seu corpo eclesiástico, assim como nós, eles têm os seus ortodoxos, fundamentalistas, liberais, esquerdistas, carismáticos e nominais. No entanto, diferente de nós, eles conseguem manter a unidade, o respeito e a irmandade apesar da diversidade. E qual o segredo deste feito exemplar? Eles têm um Papa! É interessante como a figura de um homem tem o poder de estabelecer a unidade.
Recentemente ouvi um bispo católico, que era entrevistado sobre as novas comunidades e a renovação carismática dentro da Igreja Católica Romana, afirmar que “as novas comunidades e a renovação carismática são a resposta que Espírito Santo leva a igreja a dar a um novo tempo”. Somente as palavras já seriam dignas de aplausos, mas além delas, aquele ancião demonstrava um amor pelos seus irmãos e um tremendo respeito pela igreja que me deixaram envergonhados. Era possível perceber que o amor e o respeito eram princípios que estavam acima das diferenças e dos gostos pessoais.
Em qual comportamento é possível se enxergar Jesus? Naquele que demonstra amor e respeito ao próximo e que entende que a unidade da “Noiva de Cristo” é mais importante do que aquilo que eu penso, ou naquele que diz que ama a “Noiva de Cristo”, mas vive como se a noiva se resumisse a um compêndio teológico-doutrinário pelo qual se deve brigar e, se preciso for, expulsar os que pensam diferentes?
Jesus iniciou a sua igreja juntando doze homens com histórias pessoais extremamente distintas. Havia, naquele pequeno grupo, tradicionais, progressistas, esquerdistas, renovados e até nominais. Acredito que não deve ter sido fácil o convívio inicial, mas quem disse que viver em sociedade é fácil? Aqueles homens aprenderam que os dons só existem porque as pessoas são diferentes, agem e pensam de formas distintas umas das outras, por isso é que um é chamado a completar o outro. Aprenderam, também, que amar o igual é humano, mas amar o diferente é divino. Os discípulos descobriram que a unidade da igreja só existe quando a vontade de Deus está acima da própria vontade, afinal de contas foi o próprio Jesus que disse: “Que não seja feito o que eu quero, mas o que tu queres”.
Os anos passaram e o exemplo foi perdido. Hoje, os “legítimos” representantes de Cristo não sabem mais conviver num mesmo grupo com pessoas diferentes. Temos alguém que é superior a todos os Papas, que é o único e verdadeiro mediador entre Deus e o homem, mas me parece que isto não é mais suficiente. Os nossos gostos pessoais e as nossas expressões externas de fé são mais importantes do que a ordem de convivermos entre os diferentes. Aquilo que não é essencial tomou o lugar do essencial. O tradicional se acha mais bíblico que o pentecostal, este, por sua vez, se julga mais espiritual que aquele. Esquecem que ambos deveriam promover a comunhão entre o conhecimento bíblico e o fervor pentecostal.
Será que precisamos de um Papa para vermos o exemplo de Cristo na terra? Deus tenha compaixão de nós, que um dia haveremos de prestar contas pelo que fizemos com a sua “Amada Noiva”.
Emerson Profírio