sábado, 26 de março de 2011

LEVANTE-SE DO CHÃO

Normalmente, diante de uma situação para a qual não temos explicações ou não vemos possibilidade de mudança, costumamos nos resignar. No entanto, o que vem a ser a resignação? O dicionário define esta palavra da seguinte maneira: “Submissão à vontade de alguém, ao destino: sofrer com resignação. Renúncia a uma graça, a um lugar, a uma função”. Resignar-se é “submeter-se sem revolta ou luta”. Em outras palavras, resignação seria o mesmo que sofrer calado; sufocar a dor; abafar um sentimento muito forte; conformar-se. A verdade é que não é confortável resignar-se. É muito dolorido violentar o nosso próprio eu, calar sentimentos, desejos e sonhos tão fortes dentro de nós.

Ao ler a história do paralítico que mendigava na porta do templo (Atos 3.1-10) percebi o quanto aquele homem aprendeu a viver resignado. Durante 40 anos ele sufocou desejos e dores. Viveu até aquele momento dependendo de outras pessoas para ver as suas necessidades mais básicas supridas (locomoção, alimentação, etc.). Foram 40 anos de visão limitada. Você consegue imaginar o que é viver uma vida olhando as pessoas por baixo, tendo que levantar a cabeça para falar com alguém? A vida calejou aquele homem e depois de tantos anos ele não era apenas um deficiente físico, mas, também, um homem de alma “paralítica”.

Quantas vezes, durante a sua infância, aquele paralítico deve ter tentado caminhar?! O que será que ele sentia ao ver as outras crianças correndo?! Quantas vezes ele foi alvo dos risos das outras crianças e da pena dos adultos?! Quantas vezes foi socorrido em suas quedas e teve que ouvir as seguintes palavras: “Não tente mais, você não vai conseguir. É preciso se conformar” ?! Os anos passaram, as coisas continuaram do mesmo jeito e as decepções, frustrações e palavras de desânimo foram roubando a sua força de lutar. Até que ele desistiu e se resignou...

Aquele dia seria mais um dia na sua vida. As coisas se repetiriam como nos últimos 40 anos. O que chama a atenção é a repetição da sua rotina. Pedindo esmola nada mudaria na vida daquele homem. A esmola era um meio de manter viva a resignação, de calar a sua esperança. Quantas vezes é assim que nos encontramos?! Acomodados ao nosso estado, às nossas misérias. Estamos tão cansados de tentar e fracassar, que preferimos nos esconder. Preferimos calar a esperança de mudança. E assim vamos conservando as nossas paralisias. Dar fim à paralisia não é fácil. É preciso se expor, é preciso se mostrar. O texto apresenta duas grandes lições para quem quer definitivamente se erguer da sua paralisia:

1) MUDE A MANEIRA DE ENXERGAR A VIDA “Pedro disse: Olhe pra nós”. O olhar daquele homem era o olhar de quem se entregou à paralisia. A sua postura era a de alguém que não vê qualquer perspectiva de mudança na sua vida. Ele era um homem que havia se acostumado a não ser percebido. Então, naquela tarde, Pedro fez o que muitos não fizeram ao longo dos anos, olhou nos seus olhos. Aquele olhar fez com que ele se lembrasse que era gente. As palavras de Pedro podem ser entendidas como: “olhe nos meus olhos, você é gente como eu”. Aquele homem pôde ver Jesus nos olhos de Pedro e se sentir amado. Ele estava paralítico, mas não estava morto. Nem tudo estava perdido. Era preciso ver a vida na perspectiva da graça e da esperança.

2) BUSQUE O EXCELENTE DE DEUS - “Então Pedro disse: Não tenho nenhum dinheiro, mas o que eu tenho lhe dou: pelo poder do nome de Jesus Cristo, de Nazaré, levante-se e ande”. A esmola seria algo bom para aquele homem, ela o ajudaria a se manter. No entanto, era algo pequeno diante daquilo que estava para acontecer. Muitas vezes o que nós desejamos, o que achamos que é melhor pra nós, só tem o poder de conservar o nosso estado de “paralisia”, assim, vamos nos acostumando com paliativos. Enquanto buscamos o que é bom, Deus tem reservado pra nós o que é excelente.

A nossa história não é muito diferente da história daquele paralítico. Muitos de nós já desistiram de lutar. Muitos já não possuem força nem ânimo para tentar mais uma vez. Estão cansados de tanta queda, de serem alvos dos olhares, da crítica e da pena dos outros. Muitos se resignaram, aceitaram como definitivo o seu estado de paralisia. No entanto, vimos que para Deus não há situação que não possa ser mudada. Precisamos olhar para o nosso Senhor e lembrar do seu amor, crer que “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Co 2.9).


Emerson C. Profírio

sexta-feira, 25 de março de 2011

Cristão em Construção

Para mim um dos temas bíblicos mais misteriosos é a Igreja. Outros assuntos poderiam chamar a minha atenção, tais como a encarnação de Jesus, a Trindade, o Espírito Santo e a ressurreição, mas nada é mais intrigante do que a Igreja. Como eu posso compreender que pessoas falhas como eu são revestidas de tanta honra a ponto de serem chamados de coluna e baluarte da verdade (1Tm 3.15)? Como acreditar que mulheres e homens imperfeitos são legítimos representantes daquele que é a própria perfeição (Mt 10.40)? Como aceitar que o corpo de Cristo é constituído por gente tão cheia de mazelas (1Co 12.27)?

Não fosse uma palavrinha muito especial, eu jamais compreenderia e aceitaria tão grande mistério. Uma palavra tão pequena, mas de tão grande alcance, que levou Deus a olhar para mim e enxergar além das minhas imperfeições. Uma palavra que moveu o Seu coração de tal forma que o fez dar aquilo que era tão valioso em troca de algo tão irrisório. Não há como entender a igreja sem compreender a graça (Ef 2.8).

É pela graça que temos caminhado lado a lado com Jesus. É esta graça renovada todos os dias que faz de nós “edifício de Deus” (1 Co 3.9). Por esta graça somos chamados cristãos. Por meio dela a nossa vida é posta numa constante construção, na qual dia-a-dia vamos sendo transformados à imagem do nosso Senhor (Rm 8.29). A Igreja continua a ser um mistério, contudo, pela graça de Deus, tenho convicção que sou parte deste mistério. Sou Igreja de Jesus. Um prédio ainda inacabado, mas que não tardará em ser concluído. Sou um cristão em construção esperando o dia em que ouvirei: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25.34).

Emerson Profírio