Normalmente, diante de uma situação para a qual não temos explicações ou não vemos possibilidade de mudança, costumamos nos resignar. No entanto, o que vem a ser a resignação? O dicionário define esta palavra da seguinte maneira: “Submissão à vontade de alguém, ao destino: sofrer com resignação. Renúncia a uma graça, a um lugar, a uma função”. Resignar-se é “submeter-se sem revolta ou luta”. Em outras palavras, resignação seria o mesmo que sofrer calado; sufocar a dor; abafar um sentimento muito forte; conformar-se. A verdade é que não é confortável resignar-se. É muito dolorido violentar o nosso próprio eu, calar sentimentos, desejos e sonhos tão fortes dentro de nós.
Ao ler a história do paralítico que mendigava na porta do templo (Atos 3.1-10) percebi o quanto aquele homem aprendeu a viver resignado. Durante 40 anos ele sufocou desejos e dores. Viveu até aquele momento dependendo de outras pessoas para ver as suas necessidades mais básicas supridas (locomoção, alimentação, etc.). Foram 40 anos de visão limitada. Você consegue imaginar o que é viver uma vida olhando as pessoas por baixo, tendo que levantar a cabeça para falar com alguém? A vida calejou aquele homem e depois de tantos anos ele não era apenas um deficiente físico, mas, também, um homem de alma “paralítica”.
Quantas vezes, durante a sua infância, aquele paralítico deve ter tentado caminhar?! O que será que ele sentia ao ver as outras crianças correndo?! Quantas vezes ele foi alvo dos risos das outras crianças e da pena dos adultos?! Quantas vezes foi socorrido em suas quedas e teve que ouvir as seguintes palavras: “Não tente mais, você não vai conseguir. É preciso se conformar” ?! Os anos passaram, as coisas continuaram do mesmo jeito e as decepções, frustrações e palavras de desânimo foram roubando a sua força de lutar. Até que ele desistiu e se resignou...
Aquele dia seria mais um dia na sua vida. As coisas se repetiriam como nos últimos 40 anos. O que chama a atenção é a repetição da sua rotina. Pedindo esmola nada mudaria na vida daquele homem. A esmola era um meio de manter viva a resignação, de calar a sua esperança. Quantas vezes é assim que nos encontramos?! Acomodados ao nosso estado, às nossas misérias. Estamos tão cansados de tentar e fracassar, que preferimos nos esconder. Preferimos calar a esperança de mudança. E assim vamos conservando as nossas paralisias. Dar fim à paralisia não é fácil. É preciso se expor, é preciso se mostrar. O texto apresenta duas grandes lições para quem quer definitivamente se erguer da sua paralisia:
1) MUDE A MANEIRA DE ENXERGAR A VIDA – “Pedro disse: Olhe pra nós”. O olhar daquele homem era o olhar de quem se entregou à paralisia. A sua postura era a de alguém que não vê qualquer perspectiva de mudança na sua vida. Ele era um homem que havia se acostumado a não ser percebido. Então, naquela tarde, Pedro fez o que muitos não fizeram ao longo dos anos, olhou nos seus olhos. Aquele olhar fez com que ele se lembrasse que era gente. As palavras de Pedro podem ser entendidas como: “olhe nos meus olhos, você é gente como eu”. Aquele homem pôde ver Jesus nos olhos de Pedro e se sentir amado. Ele estava paralítico, mas não estava morto. Nem tudo estava perdido. Era preciso ver a vida na perspectiva da graça e da esperança.
2) BUSQUE O EXCELENTE DE DEUS - “Então Pedro disse: Não tenho nenhum dinheiro, mas o que eu tenho lhe dou: pelo poder do nome de Jesus Cristo, de Nazaré, levante-se e ande”. A esmola seria algo bom para aquele homem, ela o ajudaria a se manter. No entanto, era algo pequeno diante daquilo que estava para acontecer. Muitas vezes o que nós desejamos, o que achamos que é melhor pra nós, só tem o poder de conservar o nosso estado de “paralisia”, assim, vamos nos acostumando com paliativos. Enquanto buscamos o que é bom, Deus tem reservado pra nós o que é excelente.
A nossa história não é muito diferente da história daquele paralítico. Muitos de nós já desistiram de lutar. Muitos já não possuem força nem ânimo para tentar mais uma vez. Estão cansados de tanta queda, de serem alvos dos olhares, da crítica e da pena dos outros. Muitos se resignaram, aceitaram como definitivo o seu estado de paralisia. No entanto, vimos que para Deus não há situação que não possa ser mudada. Precisamos olhar para o nosso Senhor e lembrar do seu amor, crer que “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Co 2.9).
Emerson C. Profírio
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