quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

UMA LIÇÃO DE GRATIDÃO



Uma marca da nossa época é a velocidade com a qual as coisas se renovam. Algo que hoje é moderno amanhã já se torna antiquado, ultrapassado, sem utilidade. A velocidade com a qual as coisas são descartadas é tão absurda que corremos o risco de perdermos as nossas memórias. Não precisamos mais da memória para lembrar, pois o computador e o celular lembram por nós. A coisas passam tão rápido que esquecemos das pessoas. As relações são tão informatizadas que logo deletamos da nossa memória nomes, histórias e momentos. É por isso que ao mesmo tempo em que o mundo está totalmente interligado, as pessoas estão cada vez mais sozinhas. Ao mesmo tempo em que todos se falam e se conhecem via internet, mais solidão tem invadido os corações dos homens. Pessoas que tem os seus perfis nas redes sociais abarrotados de seguidores e “amigos”, mas falta-lhes verdadeiros companheiros.


Os relacionamentos virtuais são um engano, pois eles nos dão a sensação de que estamos cercados de “amigos”, mas na verdade estamos sozinhos. Ninguém pode viver sozinho, ninguém vence sozinho. As nossas vidas não são construídas por duas mãos apenas, mas por muitas mãos. Nós não somos o que somos por nós mesmos, certamente outras pessoas contribuíram para chegarmos onde chegamos, para que fôssemos o que somos hoje.


O apóstolo Paulo tinha esta verdade no coração. Ele não era quem era por conta própria, sabia que ao longo da sua caminhada Deus havia providenciado pessoas que o impulsionaram pra frente. O grande apóstolo dos gentios reconhecia que ao longo do seu ministério muitas pessoas contribuíram para o seu crescimento. Paulo não se esquecia das pessoas, levava consigo cada uma delas e era grato a Deus por elas. Este trecho final na carta aos Romanos (Romanos 16. 3-16) é rico em lições, que mais do que nunca precisam ser lembradas e vividas nos nossos dias. Dias de tanta frieza e superficialidade nas relações. Dias de tanta solidão e vazio. Dias nos quais as pessoas clamam por atenção e afeto. Um ato aparentemente simples do apóstolo Paulo é encharcado da mais profunda mensagem cristã: O amor ao próximo como expressão máxima do amor a Deus. As palavras de gratidão de Paulo nos ensinam as seguintes lições:


1. O BEM TEM O PODER DE MULTIPLICAÇÃO – Paulo agradece a Priscila e Áquila porque o bem que eles praticaram na cidade de Éfeso arriscando a vida por ele não só o beneficiou, “mas também a todas as igrejas dos gentios” (v.4). A bondade deste casal não se encerrou em Paulo, mas se multiplicou de tal forma que outros se beneficiaram. A conservação da vida de Paulo permitiu que ele pregasse a mais gente e que muitos se convertessem. O bem tem um pode de multiplicação tão grande que nós estamos aqui quase 2000 anos depois vivendo as suas conseqüências. Quando nós praticamos o bem as nossas ações ganham rumos que nós mesmos desconhecemos e os nossos atos ecoam por muito e muito tempo. “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos” (Gl 6.9).


2. AS PESSOAS TÊM SEMPRE ALGO A NOS ENSINAR – Paulo não tinha problema em reconhecer a superioridade e a primazia das pessoas. Quantos já ouviram falar nos apóstolos Andrônico e Junias? Quantos já leram algo por eles produzido? No entanto, Paulo os considerava, num sentido geral, como apóstolos. O convívio do apóstolo Paulo era com gente de todo tipo. A lista apresentada por ele tem homens e mulheres, membros da corte imperial e gente do povo, judeus e gentios. Paulo honrava a todos da mesma forma e reconhecia a importância de todos eles para o seu ministério. A nossa conduta deve ser a mesma, considerar o outro superior a nós mesmos. Olhar para o outro como alguém que tem sempre algo a nos ensinar. Não somos tão bons que não tenhamos nada a aprender com o outro.


3. BOAS PALAVRAS SÃO BÁLSAMO PARA A ALMA – Notem como Paulo usa palavras afetuosas para se referir aos seus irmãos: “meu querido Epêneto”, “os notáveis Andrônico e Júnias”, “meu dileto amigo Amplíato”, “meu amado Estáquis”, “estimada Pérside”. Paulo não economizava palavras afetuosas ao se referir aos seus amigos. Ele transformava aquilo que estava no coração em ação. Ele demonstrava publicamente o seu amor. Imaginem como aqueles irmãos ouviram estas palavras. Elas entraram pelos seus ouvidos e desceram aos corações como bálsamo. Precisamos falar aquilo que sentimos de bom às pessoas quando elas podem ouvir, porque depois de mortas estas palavras não terão nenhum efeito para elas. Uma boa palavra, um elogio, um reconhecimento são capazes de curar as feridas mais profundas.


4. DEIXE QUE OUTRAS PESSOAS FAÇAM PARTE DA SUA INTIMIDADE – Quando Paulo saúda Rufo ele estende a saudação à sua mãe, “que tem sido mãe para mim” (v.13). Estas palavras mostram o quanto Paulo fazia parte da intimidade das pessoas, conhecia intimamente e se deixava conhecer. Hoje as pessoas tem medo de abrir a sua vida a outras pessoas por já terem sido traídas, magoadas e expostas, mas isso não pode fazer de nós pessoas enclausuradas e solitárias. Nós precisamos de relacionamentos profundos e estes implicam em intimidade. Não podemos ter medo de nos mostrarmos com nossas falhas e incoerências. Não devemos ter medo de sermos contrariados por alguém da nossa intimidade: “Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão” (Pv 17.17).


Que Deus nos dê a graça de cultivarmos diariamente estas verdades nos nossos relacionamentos.

Em Cristo

Emerson Profírio

Nenhum comentário:

Postar um comentário