
Tempestade é sinônimo de caos e descontrole. Sempre que ela vem deixa um rastro de destruição. Ninguém deseja ser tomado de surpresa por uma situação que foge ao controle e muda a direção das coisas. As tempestades têm o poder de mudar o rumo da vida e nos levar, muitas vezes, a tomar direções e decisões contrárias às que havíamos estabelecido para nós. Jonas estava fugindo da direção dada por Deus. Enquanto Deus o havia enviado a Nínive, ele se dirigia a Társis. Ele estava tomando a direção que, aos seus olhos, era agradável e justa, mas Deus enviou uma tempestade, ventos tão violentos que encheram marinheiros experientes de medo. As lutas enfrentadas naquele dia eram externas e internas. O caos se armava fora e dentro do coração de Jonas.
A verdade é que nenhum de nós deseja passar por tempestades. Nos arrepiamos só de pensar em sermos surpreendidos por uma situação que foge ao controle. O que sempre pedimos a Deus é que nos livre das tempestades. Nunca vi alguém pedindo em suas orações que Deus enviasse uma luta insuportável. O que desejamos para nós é tempo de calmaria. Contudo, a vida não é assim, as lutas fazem parte dela. A única coisa que conhecemos de certo é o que passou. O presente está sendo construído e cada segundo à nossa frente é desconhecido. Cada momento adiante de nós é futuro, e quem nos garante que o futuro não nos surpreenderá? Jesus disse certa vez que “basta ao dia o seu próprio mal” (Mt 6.34). Cada dia terá a sua própria surpresa, não podemos prever nada. Uma coisa é certa, no mundo teremos aflições (Jo 16.33). Ninguém passa pela vida sem experimentar as tempestades. Quantos são surpreendidos todos os dias por uma triste notícia? Momentos nos quais o chão debaixo dos nossos pés desaparece.
Há duas maneiras de passar pelas tempestades. A primeira é com desespero e se deixando dominar por ela – “Então, os marinheiros, cheios de medo, clamavam cada um ao seu deus e lançavam ao mar a carga que estava no navio. (...) Então, os homens ficaram possuídos de grande temor e lhe disseram: Que é isto que fizeste! Entretanto, os homens remavam, esforçando-se por alcançar a terra, mas não podiam, porquanto o mar ia se tornando cada vez mais tempestuoso contra eles” (5,8,13). A pessoa que absorve as tempestades tenta de todas as formas solucionar o seu próprio problema, mas não consegue. Ela se cansa e após se frustrar vem o desespero. As suas atitudes passam a ser determinadas pelas forças externas. O seu olhar é sempre negativo e pessimista.
A outra forma é acreditando que nem tudo está perdido – “O Senhor lançou sobre o mar um forte vento (...). Respondeu Jonas: tomai-me e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará” (4,12). Apesar de tudo, de ver a tempestade, de ver os seus planos indo por água abaixo e do medo, Jonas acreditava que Deus estava no controle da situação. Esta convicção não nos isenta do sofrimento, não nos imuniza ao medo, não nos livra da dor, mas alimenta a esperança que nos ajuda a passar pela tempestade. Algumas coisas podem até se perder, mas não tudo. “Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã.” (Sl 30.5).
Apesar de todo caos, o profeta Jonas sobreviveu à tempestade. Nos também sobrevivemos às tempestades, mas o que aprendemos com elas? O que elas podem nos dizer? Quais lições tiramos delas?
1. AS TEMPESTADES PODEM SERVIR PARA PÔR A VIDA NO RUMO CERTO – “Mas o SENHOR lançou sobre o mar um forte vento, e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava a ponto de se despedaçar” (5). Foi a partir daquela situação tempestuosa que Jonas começou a voltar à direção que havia sido dada por Deus. É claro que a direção não é restabelecida imediatamente. No início podemos relutar, podemos não discernir o que está acontecendo. Haverá momentos de queixa, de lamento, de teimosia? Sim, haverá. Tudo isso faz parte da nossa humanidade. Eu não conheço quem não se frustre, quem não se contrarie e quem não sofra com a tempestade, mas depois as coisas podem clarear. Jonas tomou consciência da situação e reconheceu ser ele mesmo a causa de todo o problema: “por minha causa vos sobreveio esta grande tempestade” (12). Ele não ficou buscando culpados, mas foi direto ao ponto. A melhor coisa a fazer em meio à tempestade é para e pensar, buscar discernimento espiritual de tudo que está acontecendo. É preciso repensar toda a situação e ver como eu posso contribuir para sair dela ou tornar menos sofrido o momento.
2. AS TEMPESTADES PODEM SERVIR PARA PÔR FIM AO COMODISMO – “Chegou-se a ele o mestre do navio e lhe disse: Que se passa contigo? Agarrado no sono? Levanta-te, invoca o teu deus” (6). Jonas dormia em paz acomodado aos seus planos e escolhas. Ele acreditava que tudo que ele planejou daria certo. Há momentos em que precisamos ser chacoalhados para nos movimentarmos, para arriscarmos, para sairmos da nossa indolência, da preguiça, do comodismo. Tudo vai dando certo e nos enganamos pensando que estamos no melhor lugar até que vem a tempestade e despertamos. Acomodamos-nos a uma religiosidade fria, a uma estabilidade financeira, a um relacionamento fechado. Mas, de repente, somos surpreendidos por uma tempestade e quando acordamos percebemos que as coisas não estão tão bem quanto achávamos:
3. AS TEMPESTADES PODEM LEVAR A UMA DECISÃO DRÁSTICA – “Respondeu Jonas: Tomai-me e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará” (12). Jonas tomou uma decisão drástica. Se ele relutasse as coisas se tornariam ainda mais difíceis. Aquele foi um momento de decisão. Foi preciso sair do barco e ser lançado ao mar para que tudo voltasse à ordem. Sair do barco não é fácil, do barco que segue o curso da minha vontade, do barco que é a minha segurança. Ser lançado ao mar é ainda mais difícil. No mar eu não tenho controle sobre mim mesmo e sobre as minhas coisas. Mesmo assim as tempestades podem querer de nós uma tomada de decisão, uma atitude. A nossa relutância em não tomar a atitude drástica pode levar a um sofrimento ainda maior. Mas quando o Espírito Santo sinaliza a decisão certa, pode confiar que ele vai providenciar tudo. A nossa parte é agir, pois somos cooperadores de Deus.
Depois de tudo, a tempestade se mostrou a salvação de todos. Tanto para os marinheiros quanto para Jonas ela serviu pôr as coisas na ordem. O que precisa ser posto em ordem nas nossas vidas? Os ventos e as ondas que surram as nossas vidas podem produzem mais do que barulho e medo, eles podem ser a voz de Deus apontando um novo caminho para as nossas vidas.
Em Cristo
Emerson Profírio
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