quinta-feira, 26 de novembro de 2020

DOR OU SOFRIMENTO?!

 

Carlos Drummond de Andrade escreveu um poema intitulado: Definitivo – Um poema sobre a dor e o sofrimento. Encerrando os seus versos, ele diz: “A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional”. Na compreensão do poeta, há uma nítida separação entre a dor e o sofrimento. A dor vem para todos. Seja física ou emocional, ela é um sentimento de incômodo e desconforto orgânico que alerta ao indivíduo que algo não está bem e exige dele uma atenção mais cuidadosa. A dor nos põe em estado de alerta e suscita de cada um uma ação com o fim de recuperar ou preservar algo. Nenhum de nós pode fugir da dor. Ela é parte do mecanismo humano!

O sofrimento, por sua vez, diz respeito à maneira como enfrentamos a dor. Dependendo das condições emocionais e das crenças que o indivíduo possui, da sua estrutura afetiva e dos seus atributos atitudinais, a dor pode transformar-se num sofrimento. Qualquer incômodo ou desconforto pode vir a se converter num grande obstáculo que debilita, abate e frustra o avanço e crescimento humanos. Portanto, da dor não podemos prescindir, mas o sofrimento é uma opção que fazemos.

A diferença entre a dor e o sofrimento está na maneira como encaramos o desconforto. Foi por isso que São Paulo escreveu: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz, para nós, um eterno peso de glória acima de toda comparação. Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2 Coríntios 4.17). Assim o santo apóstolo pode concluir que: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8.28). Como decidimos enfrentar a dor? Como as intempéries da vida têm sido usadas para a nossa progressão no terreno da vida? A dor é inevitável! O sofrimento é opcional!

Jamais se acovardem diante da dor! Sofram-na entendendo que ela tão somente nos predispõe a uma reação, e que esta reação precisa ser positiva. Encarem-na como um momento passageiro. Acreditem que ela é sempre momentânea, mas as suas lições são eternas. Não podemos fugir da dor, mas podemos escolher não sofrer.

 

Que Deus nos abençoe! 

Pr. Émerson Profírio

SOBRIEDADE: UM OLHAR EQUILIBRADO SOBRE A REALIDADE

No evangelho segundo escreveu São João, lemos as palavras de despedida de Cristo antes do seu calvário. Ele advertiu seus discípulos com as seguintes: “No mundo, vocês terão aflições; mas, tenham bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16.33). Sem rodeios, direto e sem florear as palavras, o Mestre falou acerca da realidade da vida neste mundo. Não houve anestesia para tornar aquele momento de despedida menos dolorido. Jesus não os embriagou a fim de que o torpor não os fizesse sentir a realidade. Ele foi sóbrio e usou a sobriedade das palavras para preparar os seus para as dificuldades que estavam por vir. Contudo, com a mesma sobriedade, exortou a que todos tivessem bom ânimo diante da vida, pois ele mesmo venceu e todos, sóbrios, também venceriam.

Palavras como estas se fazem sempre necessárias. A realidade, por mais dura que seja em alguns momentos, é sempre melhor do que a não realidade. Não adianta neologismos nem eufemismos, tudo isso não passa de cortina de fumaça que não muda a realidade. Pode até escondê-la, mas não a transforma. Esta tendência parece se evidenciar nesta atual geração. As pessoas preferem fatos adocicados a encarar que há dias em que as coisas vão bem e há dias em que as coisas não vão bem. Há dias normais e dias anormais, não “novo normal”. É esta a realidade da vida. Há uma triste tendência em nossos dias à alienação da realidade quando esta se apresenta desconfortável. Isto se evidencia em comportamentos como a falta de equilíbrio e o desespero ou em atitudes de conformismo e de apatia. Dar novo nome a uma situação desconfortável é como um convite a render-se à situação sem ao menos esboçar reação. Esta tendência é como perfumar um morto, disfarça o mau cheiro, mas o morto continua morto.

O Mestre queria forjar nos seus seguidores a nobre virtude da sobriedade a fim de que eles estivessem preparados para o dia bom e para o dia mau, mas, em todas as circunstâncias, mantivessem o ânimo. Entendemos que esta mesma virtude precisa ser evidenciada em nossas vidas, um exercício diário que nos habilita a transpor todas as vicissitudes. Que, pela graça do Senhor dos Exércitos, a nossa sobriedade seja fonte de inspiração ao menos àqueles que estão sob os nossos cuidados. Encerro estas palavras parafraseando o Sábio Salomão: “Tudo tem o seu tempo: há tempo de nascimento e tempo de morte; há tempo de plantação e tempo de colheita; há tempo de cura e tempo de doença; há tempo de abraço e tempo de isolamento; há tempo de ganhar e tempo de perder; há tempo de falar e tempo de calar; há tempo de guerra e tempo de paz; há tempo normal e tempo anormal” (Eclesiastes 3.1-8).

Que vivamos cada tempo normal ou anormal com ânimo sempre sob as bênçãos do Senhor dos Exércitos.

 Pr. Émerson Profírio

 

VALORES QUE ILUMINAM UMA VIDA EMANCIPADA

                Pessoas comuns costumam olhar a vida de uma perspectiva comum. Quase sempre, elas não conseguem perceber nada novo nas coisas cotidianas. Elas têm grande dificuldade de tirarem lições das coisas mais corriqueiras. Há, no entanto, aquelas que se destacam da massa por enxergarem a vida de uma ótica que foge ao lugar comum. Elas possuem sempre um pensamento crítico, um olhar mais atento aos acontecimentos e sabem ler as entrelinhas dos fatos. Penso que para estas pessoas incomuns, os últimos acontecimentos tem sido férteis ao fornecerem material para uma excelente reflexão sobre a maneira de viver da humanidade. Se as cifras separam os homens em ricos, remediados, pobres e miseráveis, a vida, ou melhor, a morte, os iguala. Porque depois que o homem fecha os olhos para esta existência, o pó é o destino de todo corpo. E o que se seguirá à sepultura?! Esta é uma questão a se pensar!

                A modernidade ensinou ao homem que ele seria emancipado quando soltasse as correntes da fé que o prendiam. Ela disse que a segurança só poderia ser encontrada naquilo que estava ao alcance das mãos, a imanência era a única realidade. As coisas do espírito, a transcendência, eram marcas de um viver infantil. Assim, o homem moderno “brotou das trevas”, diziam os “profetas da luz”. Foi a morte de Deus, profetizou Nietzsche! A história correu animada acreditando nestas promessas. As fronteiras tornaram-se mais flexíveis e as distâncias entre os lugares diminuiram. No entanto, inversamente proporcional à diminuição das distâncias, as pessoas foram se distanciando mais e mais. As informações passaram a circular não mais na velocidade do vapor ou do motor à combustão, mas na velocidade de um click. E neste ritmo alucinante, passaram a se dar também as relações humanas. Cada um recolheu-se no seu mundinho virtual. Mas bastou um minúsculo vírus para dinamitar a falsa fortaleza das relações virtuais

Tudo isso nos faz lembrar das palavras do nosso Senhor ao advertir os seus seguidores acerca da falsa segurança oferecida pelos bens materiais. Àquele que confiava nas firmes paredes do seu amplo celeiro de bens, disse Jesus: “Tolo! Esta noite te pedirão a tua alma, e o que tens preparado, para quem será?” (Lucas 12.20). Diante deste cenário, lembramo-nos de alguns valores que não mudam ainda que os tempos mudem, valores que estão intimamente ligados ao cerne do que vem a ser humano. São eles: O grande preço da liberdade de poder ir e vir quando se deseja; as amizades, que requerem o olho no olho, o cuidado mútuo e a presença real, não virtual; a importância do ser em detrimento do ter, uma vida não se mede pelo que se possui, mas pelo que se é; a fé como um olhar de vida esperançoso e uma habilidade com a qual resistimos às agruras da vida; a família, o porto seguro no qual ancoramos o barco das nossas vidas em dias de mar revolto; e por fim, porém mais importante, Deus, que não morreu, que está para muito além da nossa limitada razão, mas que ao mesmo tempo se faz presente, atento e cuidadoso ao cotidiano de cada um de nós. Se uma vida iluminada se nos faz oferecer à parte destes valores, esta luz não passa de uma lamparina que o tempo faz obscurecer. Mas a verdadeira luz, que ilumina a existência de uma humanidade emancipada, se faz arder por estes valores tal qual um sol no seu maior resplendor.

                Que o Senhor dos Exércitos nos faça homens e mulheres capazes de enxergar as coisas do dia-a-dia de uma maneira diferenciada. Que Deus ilumine a nossa inteligência nos permitindo aprender continuamente e estarmos sempre dispostos a sermos pessoas melhores. Que aprendamos todos os dias a valorizarmos o que precisa ser valorizado.  Que nossas vidas sejam iluminadas pela luz divina presente em cada um dos que se esforçam para fazerem deste mundo um lugar melhor lugar.

 

Em Cristo Jesus

 

Pr. Emerson Profírio

 

O MILITAR E A ESPIRITUALIDADE

 

“Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa.

Porém, manda uma palavra, e o meu moço será curado”.

Lucas 7.1-10 

            O militarismo é uma cultura mais que milenar. Ele possui valores cristalizados que impregnam as almas dos seus soldados e ditam a sua cosmovisão. A maneira como os militares veem o mundo à sua volta passa por valores como dedicação, sacrifício, obediência, abnegação e austeridade, dentre outros. Não foi atoa que muito do cristianismo encontrou seu arcabouço teórico e linguístico nesta cultura. Expressões utilizadas pelo apóstolo Paulo, como: “Combater o bom combate” ou “as armas da nossa milícia são poderosas em Deus”, são comuns para o cristianismo. Deus é, muitas vezes, descrito como um “Chefe militar que marcha em ordem de batalha” ou “O Senhor dos Exércitos”.

 Esta cultura castrense entende que a vida não é algo fácil, mas uma guerra que precisa ser pelejada. A partir desta concepção, o militar é talhado na rusticidade para enfrentar as agruras que lhe são impostas, sem fraquejar. Foi neste ambiente que o Centurião romano, apresentado pelo evangelho de São Lucas, foi talhado. As suas emoções foram forjadas no campo de batalha. Aprendendo a lutar pela vida e a encarar todos os dias a morte. Contudo, aquele homem não deixou que toda esta dureza cauterizasse o seu coração. Ainda que militar, na mais completa acepção do termo, possuía sensibilidade para as questões humanas. Mesmo sendo um líder reconhecido até mesmo pelos adversários, ele não deixou de perceber a vida e as questões da alma. Por conseguir preservar esta percepção mesmo numa cultura em que a morte torna-se comum, é que Jesus ficou tão admirado com aquele homem: “Afirmo-vos que nem mesmo em Israel achei fé como esta” (Lucas 7.9).

 O cuidado daquele Centurião pelo seu subordinado foi destacado pelo Senhor de tal forma que se torna para todos nós como paradigma nas nossa relações interpessoais. Percebemos naquele chefe militar características que devem nos inspirar como militares, como homens e mulheres, mães e pais de família. Estas características são destacadas agora:

 1. Valorização da pessoa humana – Muitos homens estavam sob as ordens daquele Centurião. Mas, independentemente de quantos estivessem, aquele líder militar valorizava a pessoa na sua individualidade. O seu subordinado não era apenas um número. O texto diz que ele “muito estimava” aquele seu servo. Todos nós temos um valor intrínseco. Todos nós somos úteis para algo. Quantos à nossa volta vivem sem nunca terem sido valorizados?! Militar não é número, é pessoa. Nós somos mais que um CPF. Cada filho é um filho único. Cada amigo tem a sua importância. Todos nós temos o nosso valor, reconhecê-lo faz bem a todos.

 2. Atenção às necessidades de quem está próximo – Mesmo com tanta responsabilidade, mesmo vivendo no “sanhaço”, mesmo sob o estresse próprio da sua profissão, aquele Centurião estava atento à necessidade do seu subordinado. As informações chegavam a ele, as necessidades lhes eram apresentadas, e ele não as desprezava. Seu radar estava sempre ligado. As pessoas dão sinais de pedido de socorro verbalmente ou não. Os dias que vivemos são dias em que muitos estão sofrendo solitários em meio à multidão. Toda mudança brusca de comportamento pode ter um pedido de ajuda por trás, que aquele indivíduo não tem sabido expressar.

 3. Vivência de uma espiritualidade simples – Apesar de ser um grande chefe militar e de ser romano (Tido como cultura superior), ele foi simples o suficiente para acreditar na fé daquele povo dominado (Tido como cultura inferior). Se ele permitisse que a sua cultura ou posição o afastasse das coisas simples, certamente não teria a experiência que teve. Ele se mostrou tão simples na expressão da sua fé que ousou crer naquilo que nem os judeus creram. Viver uma fé simples é ver no dia-a-dia oportunidades para expressarmos a nossa espiritualidade. Uma espiritualidade que faz de nós bênçãos para os que estão à nossa volta. Uma espiritualidade que nos faz fraternos e prudentes. Uma espiritualidade desprovida de preconceitos. Esta é a fé que nos proporciona resistir e vencer os dias maus. Uma espiritualidade sadia e cheia de esperança.

             Que a experiência deste Centurião romano, que chamou a atenção de Jesus Cristo, possa nos inspirar e nos desafiar a imitarmos esta conduta no nosso dia-a-dia. Assim, cada um de nós terá uma vida mais equilibrada, feliz, descomplicada e esperançosa.

 

            Que Deus nos abençoes com a sua graça

            Em Cristo Jesus

 

            Pr. Émerson Profírio

         

LIDANDO COM A IRA

 

 

 


 Mais um ano está se encerrando e, mesmo que nem tudo tenha acontecido exatamente conforme planejamos, estamos vivos. Os dias se renovam, a vida segue e temos a chance de tentarmos mais uma vez ou fazermos melhor aquilo que já temos realizado. Por tudo isso, a alegria e a gratidão devem permear tudo o que fazemos. Esta realidade torna a vida mais descomplicada e habilita o indivíduo a um viver pleno e positivo. No entanto, vez por outra situações que se interpõem nos cursos das nossas rotinas podem nos levar a perder esta paz de espírito. São pessoas, acontecimentos e problemas, que parecem surgir enviados do mal para nos testar. Desde uma pequena contrariedade com um filho ou cônjuge até um grande aborrecimento no trabalho. Todos nós podemos viver aqueles momentos em que “o sangue ferve”. Quem nunca se irou?! Quem nunca se viu em tal irritação que quase o levou a perder a cabeça?! A falar o que não devia?! A pesar a mão mais que o necessário?!

Para situações como estas, São Paulo advertiu: “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo” (Efésios 4.26,27). É fato inconteste que a ira é algo natural. Contudo, dominá-la é uma habilidade que precisa ser aprendida. A palavra grega utilizada por São Paulo traduzida por “ira” fala de um forte impulso natural na direção de quem o provoca. A ira em si não é ruim, a sua força pode converter-se numa profunda indignação frente a algo que não está correto. A ira oportuna é uma comunicação do sentimento de um homem de bem diante da injustiça e diante de algo errado. Há, pelo menos, três maneira de lidar com a força da ira, duas das quais são negativas, mas uma é a forma positiva de manuseio desta grande energia que todos nós possuímos.

A primeira forma de lidar com a ira é “explodindo”. Pôr para fora a ira num ato imediato e irrefletido atingirá aquele que o provocou, mas não sem dirigir estilhaços também à pessoa irada. A segunda forma de lidar com a ira é guardá-la dentro de nós. Interiorizar a ira é danoso, pois aquela energia produzirá irritação, impaciência, mau humor, ressentimento e toda sorte de maus sentimentos que afetarão inicialmente o indivíduo, mas reverberarão nas pessoas ao seu entorno. Por fim, resta-nos o modo sábio de lidar com a ira, a saber: Dirigir a energia na busca de solução. Apontar a ira para o outro ou para nós mesmos é danoso, mas direcioná-la para o problema é produtivo. Buscar a correção justa ou a solução do problema ocupa o pensamento, evita o ruminar ressentido, o excesso de justiça, a ofensa e a perda da razão, além de ajudar a controlar a ira. Esta busca por solução é motivacional e construtiva não só para a pessoa irada, como também para todos aqueles que estão ao seu redor. Este é o caninho!

Que o Senhor dos Exércitos nos ajude, como homens livres que somos, a trilhar sempre o caminho da prudência que nos conduz à luz da verdade. Que possamos lidar com os impulsos da ira de forma saudável e produtiva. Para concluir, apelo ao Livro Sagrado e às simples, porém profundas, palavras do Sábio Salomão: “O longânimo é grande em entendimento, mas o de ânimo precipitado exalta a loucura” (Provérbios 14.29).

Que Deus nos abençoe

 Pr. Émerson Profírio