No evangelho segundo escreveu São João, lemos as palavras de despedida de Cristo antes do seu calvário. Ele advertiu seus discípulos com as seguintes: “No mundo, vocês terão aflições; mas, tenham bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16.33). Sem rodeios, direto e sem florear as palavras, o Mestre falou acerca da realidade da vida neste mundo. Não houve anestesia para tornar aquele momento de despedida menos dolorido. Jesus não os embriagou a fim de que o torpor não os fizesse sentir a realidade. Ele foi sóbrio e usou a sobriedade das palavras para preparar os seus para as dificuldades que estavam por vir. Contudo, com a mesma sobriedade, exortou a que todos tivessem bom ânimo diante da vida, pois ele mesmo venceu e todos, sóbrios, também venceriam.
Palavras como estas se fazem sempre necessárias. A realidade, por mais dura que seja em alguns momentos, é sempre melhor do que a não realidade. Não adianta neologismos nem eufemismos, tudo isso não passa de cortina de fumaça que não muda a realidade. Pode até escondê-la, mas não a transforma. Esta tendência parece se evidenciar nesta atual geração. As pessoas preferem fatos adocicados a encarar que há dias em que as coisas vão bem e há dias em que as coisas não vão bem. Há dias normais e dias anormais, não “novo normal”. É esta a realidade da vida. Há uma triste tendência em nossos dias à alienação da realidade quando esta se apresenta desconfortável. Isto se evidencia em comportamentos como a falta de equilíbrio e o desespero ou em atitudes de conformismo e de apatia. Dar novo nome a uma situação desconfortável é como um convite a render-se à situação sem ao menos esboçar reação. Esta tendência é como perfumar um morto, disfarça o mau cheiro, mas o morto continua morto.
O Mestre queria forjar nos seus seguidores a nobre virtude da sobriedade a fim de que eles estivessem preparados para o dia bom e para o dia mau, mas, em todas as circunstâncias, mantivessem o ânimo. Entendemos que esta mesma virtude precisa ser evidenciada em nossas vidas, um exercício diário que nos habilita a transpor todas as vicissitudes. Que, pela graça do Senhor dos Exércitos, a nossa sobriedade seja fonte de inspiração ao menos àqueles que estão sob os nossos cuidados. Encerro estas palavras parafraseando o Sábio Salomão: “Tudo tem o seu tempo: há tempo de nascimento e tempo de morte; há tempo de plantação e tempo de colheita; há tempo de cura e tempo de doença; há tempo de abraço e tempo de isolamento; há tempo de ganhar e tempo de perder; há tempo de falar e tempo de calar; há tempo de guerra e tempo de paz; há tempo normal e tempo anormal” (Eclesiastes 3.1-8).
Que vivamos cada tempo normal ou anormal com ânimo sempre sob as bênçãos do Senhor dos Exércitos.
Pr. Émerson Profírio
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