“Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa.
Porém, manda uma palavra, e o meu moço será curado”.
Lucas 7.1-10
O militarismo é uma cultura mais que milenar. Ele possui valores cristalizados que impregnam as almas dos seus soldados e ditam a sua cosmovisão. A maneira como os militares veem o mundo à sua volta passa por valores como dedicação, sacrifício, obediência, abnegação e austeridade, dentre outros. Não foi atoa que muito do cristianismo encontrou seu arcabouço teórico e linguístico nesta cultura. Expressões utilizadas pelo apóstolo Paulo, como: “Combater o bom combate” ou “as armas da nossa milícia são poderosas em Deus”, são comuns para o cristianismo. Deus é, muitas vezes, descrito como um “Chefe militar que marcha em ordem de batalha” ou “O Senhor dos Exércitos”.
Esta cultura castrense entende que a vida não é algo fácil, mas uma guerra que precisa ser pelejada. A partir desta concepção, o militar é talhado na rusticidade para enfrentar as agruras que lhe são impostas, sem fraquejar. Foi neste ambiente que o Centurião romano, apresentado pelo evangelho de São Lucas, foi talhado. As suas emoções foram forjadas no campo de batalha. Aprendendo a lutar pela vida e a encarar todos os dias a morte. Contudo, aquele homem não deixou que toda esta dureza cauterizasse o seu coração. Ainda que militar, na mais completa acepção do termo, possuía sensibilidade para as questões humanas. Mesmo sendo um líder reconhecido até mesmo pelos adversários, ele não deixou de perceber a vida e as questões da alma. Por conseguir preservar esta percepção mesmo numa cultura em que a morte torna-se comum, é que Jesus ficou tão admirado com aquele homem: “Afirmo-vos que nem mesmo em Israel achei fé como esta” (Lucas 7.9).
O cuidado daquele Centurião pelo seu subordinado foi destacado pelo Senhor de tal forma que se torna para todos nós como paradigma nas nossa relações interpessoais. Percebemos naquele chefe militar características que devem nos inspirar como militares, como homens e mulheres, mães e pais de família. Estas características são destacadas agora:
1. Valorização da pessoa humana – Muitos homens estavam sob as ordens daquele Centurião. Mas, independentemente de quantos estivessem, aquele líder militar valorizava a pessoa na sua individualidade. O seu subordinado não era apenas um número. O texto diz que ele “muito estimava” aquele seu servo. Todos nós temos um valor intrínseco. Todos nós somos úteis para algo. Quantos à nossa volta vivem sem nunca terem sido valorizados?! Militar não é número, é pessoa. Nós somos mais que um CPF. Cada filho é um filho único. Cada amigo tem a sua importância. Todos nós temos o nosso valor, reconhecê-lo faz bem a todos.
2. Atenção às necessidades de quem está próximo – Mesmo com tanta responsabilidade, mesmo vivendo no “sanhaço”, mesmo sob o estresse próprio da sua profissão, aquele Centurião estava atento à necessidade do seu subordinado. As informações chegavam a ele, as necessidades lhes eram apresentadas, e ele não as desprezava. Seu radar estava sempre ligado. As pessoas dão sinais de pedido de socorro verbalmente ou não. Os dias que vivemos são dias em que muitos estão sofrendo solitários em meio à multidão. Toda mudança brusca de comportamento pode ter um pedido de ajuda por trás, que aquele indivíduo não tem sabido expressar.
3. Vivência de uma espiritualidade simples – Apesar de ser um grande chefe militar e de ser romano (Tido como cultura superior), ele foi simples o suficiente para acreditar na fé daquele povo dominado (Tido como cultura inferior). Se ele permitisse que a sua cultura ou posição o afastasse das coisas simples, certamente não teria a experiência que teve. Ele se mostrou tão simples na expressão da sua fé que ousou crer naquilo que nem os judeus creram. Viver uma fé simples é ver no dia-a-dia oportunidades para expressarmos a nossa espiritualidade. Uma espiritualidade que faz de nós bênçãos para os que estão à nossa volta. Uma espiritualidade que nos faz fraternos e prudentes. Uma espiritualidade desprovida de preconceitos. Esta é a fé que nos proporciona resistir e vencer os dias maus. Uma espiritualidade sadia e cheia de esperança.
Que a experiência deste Centurião romano, que chamou a atenção de Jesus Cristo, possa nos inspirar e nos desafiar a imitarmos esta conduta no nosso dia-a-dia. Assim, cada um de nós terá uma vida mais equilibrada, feliz, descomplicada e esperançosa.
Que Deus nos abençoes com a sua graça
Em Cristo Jesus
Pr. Émerson Profírio
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