quarta-feira, 2 de outubro de 2013

ENFRENTE A DOR COM DIGNIDADE (Pv 31.6,7)



Qualquer um que hoje liga o seu televisor é doutrinado pelos telepregadores de plantão acerca de um "evangelho" que não admite uma ação ordinário da providência divina. Um "evangelho" que espiritualizou tudo e que não admite outra ação divina que não seja o milagre. À luz deste provérbio, vamos esclarecer a diferença entre milagre e providência, duas esferas da ação divina. O milagre é um ato extraordinário da ação divina. É quando Deus age sem a mediação de nada, quando suspende as leis naturais e intervém na história de uma pessoa. A providência é quando Deus age através da mediação de leis naturais que já fazem parte da história humana. É quando Deus, no curso natural das coisas, está trabalhando. Por exemplo, quem nos dá o alimento? Deus. Como? Ordinariamente através do trabalho. Contudo, quer seja com milagre quer seja com providência a fonte de todo bem é Deus (Tg 1.17).

É nesta linha que o provérbio deve ser entendido. Ele foi proferido pela mãe do rei Lemuel de Massá, alguém de quem pouco sabemos. Fala sobre como lidar com a enfermidade. É uma instrução dada a fim de que o rei zele pela dignidade daquelas pessoas que estão enfermas. Nesta linha vemos o rei Lemuel como um instrumento da providência divina em favor dos enfermos. Nós precisamos entender que o fato de sermos cristãos não faz de nós seres com superpoderes, não faz de nós pessoas em quem a dor não exerce a sua força. O sofrimento, a enfermidade e a dor fazem parte da nossa frágil humanidade. A dor nos lembra que somos finitos e que estamos vivendo num estado caído e provisório no qual somos sustentados tão somente pela graça divina.

O sofrimento ainda não foi totalmente extirpado porque a história humana ainda não foi consumada. A presente existência é ainda um mundo de dores. A existência neste mundo seria insuportável se não fosse a providência divina.  Muitas vezes vimos Deus operar por meio dela. Vimos Deus agir através recursos acessíveis aos homens para conceder-lhes alívio às suas dores. O SENHOR fez uso de uma pasta de figos para curar a úlcera do rei Ezequias (2Re 20.7). Paulo recomendava a Timóteo que tomasse um pouco de vinho por causas das suas enfermidades (1Tm 5.23). Davi tocava harpa para acalmar Saul (1Sm 16.16). Da mesma forma você e eu devemos nos ver como instrumentos de Deus para alívio da dor do nosso próximo. Somos instrumentos da providência divina para levarmos dignidade ao que padece.

Assim, primeiramente, é preciso aliviar a dor de quem sofre. A dor pode tirar qualquer pessoa do seu estado de lucidez. Quer seja uma dor física ou emocional, ela pode desequilibrar qualquer pessoa. Quantas vezes nos surpreendemos com atitudes de pessoas que conhecemos que num momento de dor agem como quem está fora de si?! Portanto, quem quer ser agente da providência divina não pode desprezar a dor alheia por menor que seja ela. Há coisas que são urgentes e que precisam ser imediatamente atendidas. Não dá pra deixar quem sofre esperando (Tg 2.15,16). Oração faz bem, mas ação também. Providenciar um meio pelo qual a pessoa que sofre possa ter a sua dor aliviada é tão divino quanto uma oração fervorosa.

Em segundo lugar, não podemos exaltar a dor. Ainda que saibamos que nada ocorre por acaso, não podemos pensar que Deus está no céu jogando Xadrez e que os homens são as peças e o mundo o tabuleiro. Como se o SENHOR estivesse no trono apontando o dedo para os homens e mandando sofrimentos que redundem na Sua glória. Não podemos pensar que Deus vê a dor do homem com prazer. Os sofrimentos ocorrem por vários motivos, alguns dos quais são misteriosos, mas a maioria são conhecidos. Sofremos como consequência das nossas escolhas, sofremos por um estilo de vida corrido e doentio, sofremos como resultado das ações de homens maus, sofremos por causa do pecado. Dor é dor, dói! Se dói, não podemos fingir que ela não está ali, mas, também, não podemos exaltá-la como se fosse algo prazeroso. Jesus chorou diante da dor da morte do seu amigo Lázaro (Jo 11.35) e também chorou com a sua própria dor (Lc 22.44).

Por fim, devemos usar todos os recursos possíveis para curar. Não fazer uso o máximo possível dos recursos da providência para melhorar a minha saúde ou para curar é recusar o cuidado divino. Isto sim é pecado! Jesus disse: “eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10.10). Esta vida começa aqui na terra e somos co-responsáveis pela sua manutenção. O nosso corpo é tão importante para Deus quanto a nossa alma. O corpo é a habitação do nosso ser. Deve ser tratado com toda dignidade e zelo. Paulo disse: “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado” (1Co 3.17). Se cuidássemos do nosso corpo com o mesmo fervor com que oramos pela cura, estaríamos vivendo melhor. É preciso também entender que Deus deu inteligência aos homens para desenvolverem as técnicas, os medicamentos, os aparelhos, as terapias, e isso ele fez para nós. Podemos e devemos fazer uso de todos os recursos que melhorem as nossas vidas.

Esta visão da vida nos leva a olhar para um Deus relacional, que, ao mesmo tempo em que transcende a criação, é imanente. É um Deus de longe e de perto. Um Deus de milagre e providência. Ele é o Emanuel, que usa pessoas e recursos para se mostrar presente e cotidiano. Assim, que você e eu sejamos as mãos, os pés, os olhos e a boca desse Deus na vida daquele que sofre.

Em Cristo Jesus
Emerson Profírio

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