quarta-feira, 2 de outubro de 2013
UMA VIDA EQUILIBRADA (Mateus 18.19,20)
A fé cristã e mais do que mera credulidade. Ela é estilo de vida, um distintivo que marca um povo. É uma proposta de vida que tem como modelo o próprio Jesus. A fé cristã é um convite a uma vida diferente. O mundo, mais do que nunca, tem a necessidade de ouvir e viver esta fé. As pessoas têm vivido cada vez mais sozinhas e em desequilíbrio consigo mesmas, com o outro e com Deus. O estilo de vida dos nossos dias é cada vez mais solitário e individualista. Esta solidão produz uma geração frágil emocional e espiritualmente. Produz um povo que vive com medo. As pessoas são doutrinadas a não confiarem nos outros, a terem medo do estranho. Assim, vivem fechadas nas suas casas e fechadas em si mesmas.
Os versos que lemos (muitas vezes citados num contexto de oração e culto apenas) foram falados por Jesus e fazem parte de um contexto maior que trata sobre as relações entre as pessoas: Jesus ensina que a humildade deve ser a postura de cada um de nós nos nossos relacionamentos (“Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus” v.4). Fala que devemos viver de modo que as nossas atitudes não façam o nosso próximo tropeçar (“Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar” v. 6). Ele continua ensinando que as pessoas são valiosas, por isso não podem ser desprezadas. Assim, ele apresenta Deus como um pastor que cuida das suas ovelhas (“Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixará ele nos montes as noventa e nove, indo procurar a que se extraviou?” v. 12).
O que vivemos hoje é justamente o oposto deste ensino. Os homens não vivem mais para os outros. Eles são arrogantes e vaidosos. Agem sem pensar que as consequências das suas atitudes podem afetar os mais fracos. A vida do outro não vale mais nada, “o que importa é a minha vontade e a minha satisfação pessoal”, é assim pensam. Como sobreviver a este ritmo de vida sem adoecer? Como suportar esta sociedade individualista sem surtar? Onde buscar o equilíbrio para as nossas vidas num mundo desequilibrado? Jesus responde esta questão! É preciso viver a fé cristã em todas as suas dimensões. Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10.10). Vida em abundância, plena, satisfeita, completa em todos os sentidos. A fé cristã é uma proposta de vida que vê o homem integralmente. Não é uma fé apenas para as quatro paredes da igreja (edifício). Também não é uma fé apenas para causar sensações. A fé cristã responde ao desequilíbrio da humanidade.
Ela possui duas dimensões. A primeira delas é a DIMENSÃO VERTICAL (“qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus”). Notem que aqui há uma relação do homem com Deus. Esta é a dimensão subjetiva da fé. É subjetiva porque diz respeito ao sujeito (indivíduo). Ela nasce de uma convicção pessoal em relação a Deus. Ela envolve a razão (crer) e a emoção (sentir) da pessoa. Esta dimensão pessoal da fé vem de Deus e leva o homem a conhecer a si mesmo. Calvino dizia que o homem só conhece a si mesmo verdadeiramente quando conhece a Deus. Deste conhecimento nasce um senso de dependência. É o que João chama de “a divina semente”: “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (1Jo 3.9). Esta é a dimensão da fé que nos liga ao ETERNO.
Essa dimensão vertical da fé nos leva a querer as coisas de Deus, a buscar as coisas do alto. Ela produz um choque existencial entre Deus e o mal que habita em nós. Ela nos faz reconhecer os nossos pecados, fraquezas, imperfeições, medos e traumas. Esta é a dimensão da fé que nos cura. Contudo, para que o processo de equilíbrio se desenvolva nas nossas vidas, é necessário que a nossa fé seja exercitada, pois se a fé fosse apenas uma experiência pessoal ela não seria provada e não amadureceria. Aqui entra a segundo dimensão da fé, a DIMENSÃO HORIZONTAL (“Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem [...]. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”).
Notem que agora a relação não é com os céus, é uma relação terrena. É uma relação com o nosso semelhante. A fé cristã para ser completa deve ser também horizontal, ou seja, deve ganhar uma dimensão coletiva. Ela não pode ser apenas pessoal porque o homem não é apenas um ser pessoal, mas é também um ser coletivo. Faz parte da essência humana o desejo pela coletividade. Isto é marca da divindade em nós. Deus nos criou à sua imagem e semelhança, assim, transmitiu para nós o desejo de viver em comunidade. A primeira comunidade existente, a Santíssima Trindade, foi o modelo para a nossa criação. É por isso que Adão, sendo um homem fisicamente completo, não era nem espiritualmente nem emocionalmente completo até que Deus criasse Eva.
Deus já se relacionava com ele antes da criação de Eva, mas mesmo assim Adão não tinha uma vida plena e abundante. Ele sentia que faltava algo. É por isso que Jesus nos ensina que ele se faz presente onde estiverem dois ou três reunidos em seu nome. O “concordar” é o mesmo que firma um acordo. É entrar numa relação de complementaridade com o outro e pedir a bênção de Deus. Para entrar em acordo com o nosso semelhante precisamos exercitar a nossa fé. Precisamos aprender a abrir mão das nossas vontades em favor da coletividade. Deus considera este acordo.
É na vivência comunitária que a fé floresce e frutifica. É na coletividade que desenvolvemos a vida abundante. É na vida em comunhão que vamos aprendendo a dar contornos concretos a nossa fé através do exercício dos dons, do anúncio do evangelho, da adoração coletiva e do perdão mútuo. Jesus está ensinando que ele se coloca à disposição para se encontrar com a comunidade reunida. A comunidade reunida é o corpo de Cristo. Ninguém é igreja sozinho. Igreja é um conceito coletivo. Jesus, sendo Deus eterno e infinito, submeteu-se ao tempo e ao espaço para se achegar ao homem carente. Ele encarnou e viveu vida comunitária com seus discípulos e lhes ensinou que para o homem viver equilibrado emocional e espiritualmente precisa viver também a dimensão horizontal da fé.
As pessoas estão doentes no corpo e na alma porque estão distantes deste modelo de vida apresentado por Jesus. O mundo individualista separou o homem do seu próximo, separou o homem de Deus e separou o homem de si mesmo. Criou-se um mundo compartimentado quando tudo deveria ser vivido em comunidade numa interrelação. Alguns decidiram viver uma espiritualidade sem conexão com o mundo. É a espiritualidade das orações, das músicas, dos mistérios, mas que parecem conduzir o homem a um mundo a parte. É a espiritualidade dos templos, da alienação. Outros decidiram viver uma espiritualidade pessoal. Dizem que não precisam da igreja, não precisam da vivência comunitária. Não precisam pastorear nem serem pastoreados. É a espiritualidade privada. Há ainda aqueles que desprezam a realidade espiritual e vivem como se a existência se resumisse apenas à matéria, ao aqui e agora.
O mundo está doente e precisa viver a fé cristã. A fé que nos liga a Deus e que nos liga ao próximo. A fé comunitária que nos faz experimentar a vida abundante que o Senhor nos ofereceu. As pessoas precisam ouvir que vida equilibrada só em Cristo. Nós precisamos viver esta proposta de vida se quisermos viver de forma equilibrada. Que o Senhor nos cure e nos ajude a viver uma fé genuína.
Em Cristo Jesus
Emerson Profírio
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